Página:Uma campanha alegre v1 (1890).pdf/197

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— Não aprovo o projecto do ilustre presidente do Conselho, porque entendo na minha consciência, e digo-o à face do País, que S. Exª é uma verdadeira serpente:

— Mando para a mesa a seguinte moção:

A Câmara, compenetrada de que o sr. ministro da Fazenda é uma lontra, passa à ordem do dia!

Depois o modo carinhoso como a Câmara tomou conta da infeliz palavra insulto!

Aquela pobre palavra, tão comprometedora, que nunca aparecia outrora que não fosse o sinal de um duelo ou de uma policia correccional — o parlamento refez-lhe uma virgindade e um decoro, e ela agora vem, e ninguém se revolta, e o Sr. António Aires tem para ela um bom sorriso.

— O ilustre deputado há três dias não faz senão insultar-me (textual). Três dias!

— O ilustre deputado não me insulte!

— Vou responder a esses insultos!

— Menos insultos!

Ai! o mundo despoetiza-se! As coisas terríveis perdem o colorido da lenda. As

O Parlamento vive na idade de ouro. Vive nas idades inocentes em que se colocam as lendas do Paraíso — quando o mal ainda não existia, quando Caím era um bom rapaz, quando os tigres passeavam docemente par a par com os cordeiros, quando ninguém tinha tido o cavalheirismo de inventar a palavra calúnia! — e a palavra mente! não atraía a bofetada! crianças riem do papão. O diabo já não é temido. O insulto já não é aviltante! Não é! A

Câmara dos Deputados vive há um mês, tendo no seu seio o insulto, em perpétua ordem do dia — e engorda!