a vadiagem dos cais; a exalação das sarjetas; a humidade infecta, tudo faz daqueles lugares — uma espécie de depósito da miséria pública. Como para o vão da escada se atiram nas casas os restos de trapos, de louças, de chinelos velhos — para aqueles bairros se atira
A Câmara Municipal de Lisboa, segundo se afirma, compenetrada da necessidade iniludível de melhorar as condições da cidade, trata com toda a solicitude de fazer a aquisição de um leopardo. Diz-se ainda que depois procurará alcançar, para completar a obra da regeneração municipal, araras do Brasil. desapiedadamente com os restos da plebe!
Lisboa é a cidade mais suja da Europa. A própria Constantinopla, com o torpe desleixo turco, a própria Atenas, com a indolente miséria grega — são mais limpas. E se não fosse o Tejo que lhe faz uma certa toilette, e este sol maravilhoso que tudo alegra e doura — Lisboa, aqui ao canto, junto do mar, como um cano, seria a sentina da Europa.
E perante esta situação, o município, penetrado da sua responsabilidade, e resolvido a dotar a cidade de condições habitáveis — o que lhe dá?
Um leopardo.
É talvez interessante, mas não excessivamente prático, este facto: a fera em substituição da obra pública.
Porque a verdade é que, quando se expuser convincentemente à câmara que a cidade de noite está escura, a câmara não pode em sua honra — em vez de mais gás, adquirir mais leões.
Não queremos mal às feras: e quanto mais conhecemos