como um refúgio, e um dia, embrulhados numa serapilheira, são deitados à vala!...
«Miserável, tu foste impudente! Viste aquela senhora, descendo de uma caleche, com batedores; julgaste que ela, rainha, rica, bem agasalhada, podia dar-te a ti, pobre diabo, uma moeda de vintém, o custo de um caldo quente numa taberna!... Porque enfim, velhaco, bem se vê que vais precisando de comer por este frio áspero...
Imaginaste que a tua audácia te podia render um vintém! Bem vês, rendeu-te a cadeia.
Aprende! Um mendigo como tu, esfarrapado e nojento, não se aproxima assim de uma princesa nova, na frescura aveludada da sua toilette! Pois ousaste ir pedir uma esmola sem levares uma farda de moço fidalgo? O teu hálito de fome podia incomodar aquela gentil senhora. Imagina que ela manchava a ponta da sua luva gris pene, se te tocasse na mão, nessa mão sempre estendida e cortada do leste... Que desgraça! a sua luva perfumada com «marechala»! Pois a policia podia lá consentir tal desastre! Tu és um animal! Vejam lá! Sob pretexto de que o Inverno é terrível, de que não tens pão, nem lume, nem uma manta, que tiritas, que sentes dores, que és velho, vais assim pôr-te diante de uma princesa, em toda a crua realidade dos teus andrajos, e pedes-lhe 10 réis!
10 réis! Assim se pedem 10 réis! Ah! imbecil,