E no entanto, perante a emigração crescente, que faz o Estado, a imprensa, a opinião?
Interrompe-se um momento, e volta-se para os colonos, aplica-lhes a luneta — e diz àquela plebe esfaimada:
— O quê! quereis ir embora? Oh imprudentes. Tendes acolá os terrenos do
Alentejo!
Ora os terrenos, os eternos terrenos do Alentejo, são simplesmente um gracejo torpe.
Os terrenos do Alentejo, tais como estão, não produzem na generalidade senão bolota. E justamente o Governo, a imprensa e a opinião oferecem esses terrenos tais como estão. Conheceis brincadeira mais abjecta?
Uma população de trabalhadores, operários, proletários, pede trabalho — senão emigra. E o País exclama:
— Não emigreis, tendes acolá os terrenos do Alentejo — isto é, tomai vós, ó proletários, ó gente do campo, á pés descalços, os quatro ou cinco mil contos que tendes aí no bolso roto da jaqueta, associai-vos em grandes companhias, comprai máquinas e instrumentos, lavrai tantas léguas quadradas, arroteai, regai, abri poços, fazei aquedutos, estabelecei lezírias, levantai grandes fundos com o vosso grande crédito, tu Manuel da
Horta, tu José da Cancela, tu ferrador, tu jornaleiro — e e