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O teatro perdeu a sua ideia, a sua significação; perdeu até o seu fim. Vai-se ao teatro passar um pouco a noite, ver uma mulher que nos interessa, combinar um juro com o agiota, acompanhar uma senhora, ou — quando há um drama bem pungente — para rir, como se lê um necrológio para se ficar de bom humor. Não se vai assistir ao desenvolvimento de uma ideia; não se vai sequer assistir à acção de um sentimento.

Vai-se, como ao Passeio, em noites de calor, para estar. No entanto, como é necessário que, quando se ergue o pano, se movam algumas figuras e se troquem alguns diálogos — tem por isso de existir em Portugal uma literatura dramática.

A ideia que acode a todos é traduzir. E desde logo moços, que ficaram no seu tempo reprovados no exame de Francês, traduzem. Onde está vous, põem v. exª; e este esforço prodigioso de invenção está gastando em Portugal a força de uma geração literária. Mas nem sempre se pode traduzir... O público gosta de ver coisas que se pas-sem no Chiado e na Rua dos Fanqueiros; e depois, as obras francesas são para grandes companhias de actores, que pelo seu número, pelos seus recursos, pelo seu saber, deixam livre a fantasia criadora do dramaturgo. Então imita-se. Onde está Mr. Valeroy, põe-se o Conselheiro Bezerra; onde está Lyon, põe-se Arcos de Valdevez;