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dizem que sou sucessivamente regenerador, histórico, reformista!... Eu nunca quis ser senão — governador civil!» Este homem tinha razão, porque mudar do Sr. Fontes para o Sr. Braamcamp, não é mudar de partido; — ambos aqueles cavalheiros são monárquicos e constitucionais e católicos. A desgraça é que, se em Portugal existissem partidos republicanos, monárquicos, socialistas, aquele homem, assim como fora sucessivamente reformista, histórico e regenerador — isto é, as coisas mais iguais — seria republicano, monárquico e socialista — isto e, as coisas mais contraditórias.

A família é a primeira a desmoralizar neste sentido a consciência. — «Quem apanhou, apanhou», é a voz doméstica. O indivíduo assim rebaixado, tendo perdido a altivez da dignidade e da opinião, habitua-se a dobrar-se; dobra-se diante do agiota, do merceeiro, do criado... Dobra-se sempre; propõe injustiças e aceita-as. Extingue-se nele gradualmente a noção do justo e do injusto. Julga o favor, a protecção, a corrupção, funções naturais e aceitáveis. Não há um juiz em Portugal que não possa contar que se lhe tem pedido as coisas mais monstruosamente iníquas, com a simplicidade com que se pede o lume de um cigarro.

O homem, à maneira que perde a virilidade de carácter, perde também a individualidade de pensamento.