prosperidade e desolação, desolação e prosperidade, eternas exéquias e eternas aleluias, auroras sobre auroras, ocasos sobre ocasos?
Prometeu. — Mas não padeceste, creio; é alguma cousa não padecer nada.
Ahasverus. — Sim, mas vi padecer os outros homens, e para o fim o espetáculo da alegria dava-me a mesma sensação que os discursos de um doido. Fatalidades do sangue e da carne, conflitos sem fim, tudo vi passar a meus olhos, a ponto que a noite me fez perder o gosto ao dia, e acabo não distinguindo as flores das urzes. Tudo se me confunde na retina enfarada.
Prometeu. — Pessoalmente não te doeu nada; e eu que padeci por tempos inúmeros o efeito da cólera divina?
Ahasverus. — Tu?
Prometeu. — Prometeu é o meu nome.
Ahasverus. — Tu Prometeu?
Prometeu. — E qual foi o meu crime? Fiz de lodo e água os primeiros homens, e depois, compadecido, roubei para eles o