Ahasverus. — Para que quero eu palavras tuas? Quero os teus gemidos, divindade perversa. Aqui estão as cadeias. Vê como as levanto nas mãos; ouve o tinir dos ferros... Quem te desagrilhoou outrora?
Prometeu. — Hércules.
Ahasverus. — Hércules... Vê se ele te presta igual serviço, agora que vais ser novamente agrilhoado.
Prometeu. — Deliras.
Ahasverus. — O céu deu-te o primeiro castigo; agora a terra vai dar-te o segundo e derradeiro. Nem Hércules poderá mais romper estes ferros. Olha como os agito no ar, à maneira de plumas; é que eu represento a força dos desesperos milenários. Toda a humanidade está em mim. Antes de cair no abismo, escreverei nesta pedra o epitáfio de um mundo. Chamarei a águia, e ela virá; dir-lhe-ei que o derradeiro homem, ao partir da vida, deixa-lhe um regalo de deuses.
Prometeu. — Pobre ignorante, que rejeitas um trono! Não, não podes mesmo rejeitá-lo.
Ahasverus. — És