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em suas roças, penduram-nas junto a si em algum ramo de arvore, fazendo-me lembrar a historia de Nehemias, na reparação dos muros de Jerusalem, quando os seos habitantes trasiam n’uma das mãos as armas e na outra os instrumentos do trabalho.

Gostam muito de traser as espadas tão limpas como cristal, e para isso as esfregam com areia fina e azeite de mamona, amolam-nas repetidas vezes para estarem sempre cortantes, aguçam as pontas, quando estão gastas pela ferrugem muito commum na zona tórrida.

Acostumam-se a bem manejal-as, fazendo marchas e contra-marchas, á maneira dos suissos quando esgrimam.

Alem de serem corajosos e bons soldados, trabalham muito bem, e antes quero uma hora de tarefa d’elles do que um dia dos Tupinambás.

Seos Principaes trabalham tanto quanto os seos subordinados de menor representação, porem o serviço está bem regulado, porque ao romper do dia levantam-se, almoçam, e depois vão elles mulher e filhos, conjunctamente, alegres risonhos, cantando trabalhar em suas roças, e quando o sol principia a chegar ao seo maior auge do calor, que é perto das dez horas, deixam a lida, vão comer e dormir, e duas horas depois do meio dia, quando o sol principia a declinar voltam outra vez ao trabalho, onde se conservam até ao anoitecer.

Os Principaes, que ordinariamente tem mesa franca, para o que necessitam de roças maiores, preparam um Cauin geral, e como todos partilham d’elle, se incumbem de cuidar nas plantações, o que fazem com alegria n’uma ou duas manhãs, e depois vão beber na casa d’aquelle para quem trabalharam, bebendo cada um quando chega a sua vez, e quando o acham bom o gabam com todas as suas forças, compõem cantigas adequadas, que entoam ao redor da casa ao som do Maracá, pronunciando estas ou outras similhantes palavras: «oh! o vinho, o bom vinho, nunca