Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/110

Wikisource, a biblioteca livre
46

bem e em bons termos, mostrando tanto nas maneiras como no corpo, generosidade e nobresa de coragem.

Mandei-o á presença do senhor de Pezieux, loco-tenente de Sua Magestade na ausencia do Sr. de la Ravardiere, que tendo ouvido a queixa, mandou carregar de ferros os pés do escravo, promettendo ao Principal fazer a justiça, que elle quizesse.

Replicou-lhe o Principal que desejava vel-o morto como era costume: respondeo o senhor de Pezieux, que Deos tinha ordenado em sua lei, que deviam morrer tanto o homem como a mulher adultera.

Sim, disse o Principal, porem ella foi constrangida.

«Não, respondeo o senhor de Pezieux, a mulher não pode ser forçada por um só homem, ou pelo menos deve gritar, e não pedir segredo ao selvagem, o que é tacito consentimento:» dizia tudo isto para salvar o escravo da morte, por que muito bem sabia não concordar o Principal na morte de sua mulher visto os muitos parentes que ella tinha.

Conseguio-o logo, porque elle pedio ao Sr. de Pezieux, que não matasse o escravo, mas sim que o prendesse na golilha, e que lhe fosse permittido açoital-o á vontade.

«Sim, disse-lhe o Sr. de Pezieux, com tanto que dês quatro açoites com cordas em tua mulher, diante de todas as mulheres, que se acharem no Forte, e ao som da corneta.»

Acordes n’isto, na manhã seguinte, foi a mulher conduzida e confrontada com o escravo, reconheceo-se que o facto deo-se como ja referi, foram ambos conduzidos á praça publica do Forte, onde se fincou o esteio e a golilha: ahi o marido representou o papel de verdugo, escolheo tres ou quatro cordas bem duras, que enrolou em seo braço, e voltou em sua mão direita, e com ellas açoitou sua mulher por quatro vezes, deixando-lhes vergões bem grossos e cumpridos, impressos sobre seos rins, ventre e costas, não sem derramar muitas lagrimas, que lhe corriam ao longo das