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faces, e sem exhalar profundos suspiros: sua mulher tambem gemia, com a vista baixa, envergonhada de assim se vêr rodeiada por tantas mulheres, que, como ella, tambem choravam tanto por compaixão, como apprehensivas de que para o futuro não lhes acontecesse o mesmo.

Os homens ao contrario mostravam-se alegres diante de tão boa justiça, e gracejando diziam á suas mulheres — ah! se te pilho!

Durante todo o dia estiveram tristes as mulheres dos Tabajares.

Depois de haver açoitado sua mulher, este bom marido lhe disse «eu não tinha desejos de castigar-te, fiz o que pude perante o Maioral dos Francezes para salvar-te, porem vae, enchuga tuas lagrimas, e tornar-te hei a tomar por mulher, e te levarei para casa quando acabar de castigar este escravo.»

Sabe Deos, se o pesar que elle teve pelos açoites, que deo a mulher, melhorou a sorte do pobre escravo, porque pondo-o na praça ou no largo, fez um circulo do tamanho do seo chicote, separado todos, um por um.

Tinha o escravo ferros nos pés, estava em pé, nu como a palma da mão, e assim soffreu o castigo, sem dizer uma palavra e sem mecher-se: por tres vezes cansado e sem poder respirar descançou, depois de fortalecido recommeçou e de tal maneira, que não poupou uma só parte do corpo.

Começou pelos pés, seguio pelas pernas, coxas, partes naturaes, rins, ventre, espaduas, peito, e acabou pelo rosto e testa.

Esteve muito tempo doente por este castigo, sempre com ferros nos pés, conforme pedio o Principal, porem passado algum tempo consentio que lhos tirassem, á pedido do senhor de Pezieux, que desejava satisfazer os desejos dos seos Principaes para melhor obrigal-os a serem fieis aos Francezes.