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e os nossos antepassados por não haverem Principaes n’esse tempo.

É viva sua intelligencia como reconhecereis pelo seguinte facto.

Não ha estrellas no Ceo, que elles não conheçam e calculam pouco mais ou menos a vinda das chuvas e as outras estações do anno.

Pela phisionomia distinguem um Francez de um Portuguez, um Tapuyo de um Tupinambá, e assim por diante.

Nada fazem antes de pensar, e pezam em seu juiso uma coisa antes de emittir sua opinião. Ficam serios e pensativos, porem não se precipitam em fallar.

Mas, dizeis vós, como é possivel que estas pessoas tenham tal juiso fazendo o que fazem?

Porque elles dão por uma faca cem escudos de ambar gris, ou qualquer outra coisa, que apreciamos, como sejam: ouro, prata e pedras preciosas.

Eu vos direi a opinião que elles fazem de nós, muito contraria n’este ponto: julgam-nos loucos e pouco judiciosos em apreciar mais as coisas, que não servem para o sustento da vida do que aquellas, que nos proporcionam o viver commodamente.

Na verdade, quem deixará de confessar, ser uma faca mais necessaria á vida do homem, do que um diamante de cem mil escudos, comparando um objecto com outro, e pondo de parte, a estima que se lhe dá?

Para provar que não lhes falta juiso afim de avaliar a estima que fazem os Francezes das coisas existentes em sua terra, basta dizer, que elles sabem altear muito o preço das coisas, que julgam ser apreciadas pelos francezes.

Um dia disseram-me alguns, que era preciso haver muita falta de madeira em França, e que experimentassemos muito frio para mandarmos navios de tão longe, a mercê de tantos perigos, carregarem de paus.[NCH 36]

Respondi-lhes que não era para queimar e sim para tingir de cores.