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e pela graça: sem fazer comparação, acho-os mimosos, doceis e affaveis como os meninos francezes, não esquecendo antes tornando bem saliente a graça do Espirito Santo concedida pelo baptismo aos filhos dos Christãos.

Si acontece morrerem os meninos n’esta idade, tem os paes pesar profundo, e sempre se recordam d’elles, especialmente nas cerimonias de lagrimas e lamentações, recordações que fazem uns aos outros, lastimando esta perda e a morte dos seos filhinhos, dando-lhes o nome de Ykunumirmee-seon «o menino morto na infancia.»

Vi mães, quase loucas, no meio de suas roças, ou nas matas sosinhas, em pé ou agachadas, chorando amargamente, e quando lhes perguntava para que faziam isto, respondiam-me «Oh! recordo-me da morte de meos filhinhos, Ché Kunumirmee-seon, ainda na infancia» e depois continuavam a chorar e muito.

È na verdade mui natural o ter pesar da perda e morte d’estes meninos, que ja haviam custado tantos trabalhos á seos paes, e que estavam na edade de dar-lhes alguma alegria.

Acha-se a terceira classe entre estas duas primeiras — infancia e puericia, e as da adolescencia e virilidade, entre os 8 a 15 annos, a que chamamos mocidade: appellidam-nos os selvagens simplesmente por Kunumy sendo a infancia chamada Kunumy-miry, e a adolescencia Kunumy-uaçu.

Estes Kunumys, ou rapazes, na idade do 8 a 15 annos, não ficam mais em casa e nem ao redor de sua mãe, e sim acompanham seos paes, tomam parte no trabalho d’elles imitando o que vêem fazer: empregam-se em buscar comida para a familia, vão as matas caçar aves, e ao mar flechar peixes e admira vêr a industria com que flecham as vezes tres a tres peixes juntos, ou agarram em linha feita de tucu ou em pussars, especie de rêde de pescar, que enchem de ostras e outros mariscos, e levam para casa. Não se lhes manda fazer isto, porem elles o fazem por instincto proprio,