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Em quanto os rapazes d’esta idade carregam arcos e flexas, as raparigas se empregam em ajudar suas mães, fiando algodão como podem, e fazendo uma especie de redesinha como costumam por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais habeis no fabrico de potes e panellas.

Expliquemos o amor, que o pae e a mãe dedicam a seos filhos e filhas.

Pae e mãe consagram todo o seo amor aos filhos, e ás raparigas apenas accidentalmente, e n’isto acho-lhes razão natural, nossa luz commum, a qual nos torna mais affeiçoados aos filhos do que ás filhas, porque aquelles conservam o tronco e estas o despedaçam.

Abrangem a terceira classe desde 7 até 15 annos, e a moça n’esta idade se chama kugnantin, «rapariga»: n’este tempo ordinariamente perdem, por suas loucas phantasias, o que este sexo tem de mais charo, e sem o que não podem ser estimadas nem diante de Deos, nem dos homens; perdoem-me se digo, que n’esta idade não são prudentes, embora a honra e a lei de Deos as convidasse á immortalidade da candura, porque estas pobres raparigas selvagens pensam, e muito mal, aconselhadas pelo autor de todas as desgraças, que não devem ser mais puras quando chega esse tempo. Nada mais direi para não offender o leitor: basta tocar apenas o fio do meo discurso.

N’essa idade aprendem todos os deveres de uma mulher: fiam algodão, tecem redes, trabalham em embiras, semeam e plantão nas roças, fabricam farinha, fazem vinhos, preparam a comida, guardam completo silencio quando se acham em quaesquer reuniões onde ha homens, e em geral fallam pouco se não estão com outras da mesma idade.

A quarta classe está entre 15 a 25 annos, e a rapariga n’ella comprehendida chama-se kugnammucu, «moça ou mulher completa», o que nós dizemos por «moça boa para casar.»

Passaremos em silencio o abuso, que se pratica n’estes annos, devido aos enganos de sua Nação, reputados como lei por elles.