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Escarnecem e despresam o homem, que se accommoda com as provocações e questões de sua mulher quando ella tem mau genio.

Em quanto ahi morei, aconteceo aborrecer-se um selvagem do mau genio de sua mulher a ponto de empunhar com a mão direita um cacete, e na esquerda segurar nos cabellos d’ella querendo experimentar se este oleo e balsamo adoçaria o azedume de seo mal, porem admirou-se de vêr, que cahindo o fogo na chaga mais o augmentasse, porque podendo escapar-se de suas mãos, á vista dos visinhos, tomou tambem ella outro cacete, quiz fazer o mesmo ao marido, e depois de se haverem espancado reciprocamente com grande applauso de todos, ficaram ambos com igualdade de circumstancias frente a frente um do outro, sendo depois o marido a fabula e o assumpto de todas as conversas, quer dos grandes quer dos pequenos. Diziam os antigos nas suas Casas-grandes, que elle não teve remedio si não ficar com sua mulher, porque já a conhecia.

Vi os abandonar e deixar seos generos a quem vendem, só para evitar questões com o comprador.

Notareis, que elles só tem — sim e não — quando negociam juntos, ou com os Francezes, nunca regateando.

Muitos outros exemplos eu poderia ainda reproduzir, porem bastam estes.

Avaliam muito bem as pessoas colericas, a que chamam Poromotare-vim, e reciprocamente se advertem dizendo — Cheporomatare-vim, «estou encholerisado,» e então ninguem lhe diz nada, antes buscam abandonal-o o mais que podem, o que exprimem por Mogerecoap, «abrandar alguem». Aimogerecoap, «abrando o que está encolerisado.»

Observei muitas vezes, quando viam um Francez enraivecido, ficarem como que fóra de si, mudarem de côr, e fugirem da vista d’elle, dizendo uns aos outros Ymari turuçu «está muito zangado, está muito enfurecido.» Ché-assequeié seta. «Tenho medo d’elle.»