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serem plantados em suas roças, pois já comsigo levavam a força da multiplicação.

Gozou de muita influencia por onde passou, muitas foram as dadivas das mulheres, e mal satisfazia o que promettia, guardavam ellas com todo o cuidado os legumes e grãos mastigados.

Estabeleceo uma dansa ou procissão geral fazendo com que todos os selvagens levassem na mão um ramo de palmeira espinhosa,[NCH 56] chamada tucum, e assim andavam ao redor das casas, cantando e dansando, para animar, dizia elle, o seo espirito a mandar chuvas, então n’esse anno mui tardias: depois da procissão cauinavam (bebiam cauim) até cahir.[NCH 57]

Mandou encher d’agoa muitas vasilhas de barro, e rosnando em cima d’ella não sei que palavras, ensopava um ramo de palmeira, e com ella aspergia a cabeça de cada um d’elles, dizendo «sêde limpos e puros afim de meo espirito enviar-vos chuva em abundancia.»

Tomava uma grande tabóca de bambu, enchia-a de petum, deitava-lhe fogo n’uma das extremidades, e depois soprava a fumaça sobre os selvagens dizendo «recebei a força do meo espirito,[NCH 58] e por elle gozareis sempre saude, e sereis valentes contra vossos inimigos.»

Plantou no centro d’aldeia uma arvore de maio, carregou-a de algodão, e depois de haver dado muitas voltas e vira-voltas em redor, lhes prognosticou grande colheita n’esse anno.

Apezar de tudo isto não vindo a chuva, dia e noite fazia elle dançar e cantar os selvagens, gritando com quanta força tinham afim de despertar seo espirito, como faziam outr’ora os sacrificadores de Baal.

Com tudo isto não choveo.

Fez acreditar á estes selvagens, que elle bem via o seo espirito, carregado de chuvas, do lado do mar, porem que não se animava a vir por causa da Cruz, erguida no centro da praça, fronteira a Capella de N. S. d’Vsaap, e que se quizessem