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IV

A hyperbole do elogio monastico chegou até o ponto de consideral-o como o engenho mais poderoso de sua Ordem.

Foi sempre elle quem representou unicamente seos Superiores: eram d’elle os muitos livros, escriptos quase todos em latim, que foram oppostos, e victoriosamente, ás publicações violentas atiradas contra as Ordens mendicantes.

Da sua antiga occupação de advogado se recordava e se aproveitava das tricas e desordens, proprias da epocha, e até lançava mão da astrologia judiciaria, pelo que se lhe attribuio a authoria do Fatum Mundi, livro absurdo, mas que durante algum tempo preoccupou a attenção publica.

Declarado por unanimidade o oraculo do seu Convento, nem se quer por um momento houve a ideia de associar-se á sua lembrança o nome d’um Religioso, igual ao seo, e que apenas sabia sacrificar-se com o fim de ganhar algumas almas para Deos! O que fazia o nosso modesto amante da natureza diante de tal personagem, tão cercada de gloria, diante da Phenix dos theologos francezes, como então por gosto o appelidavam? [1]

Mas, quem é que se recorda hoje do Padre Ivo de Pariz? Quem cuida hoje nas discussões, cuja vehemencia lhe attribuiram tão viva admiração?

Colloquemos os homens e os factos nos lugares, que devem occupar.

  1. Não inventamos: um dos seos mais ardentes admiradores, tambem Capuchinho, falla d’elle nestes termos: Tantarum segete scientiarum, factus est dives ut Galliæ Phœnix hac nostra ætate communiter sit appelatus. Vide o vasto Repertorio de Diniz de Gênes. Bibliotheca scriptorum ordinis minorum Sancti Francisci capucinorum.
    Wading, mais moderado, contenta-se em chamar o Padre Ivo de Pariz — egregius concinnator, insignis Capuccinus.
    O autor anonymo dos elogios manuscriptos dos Capuchinhos da Cidade de Pariz não pôz limites ao seu enthusiasmo, quando disse: «a natureza parece ter querido exgotar-se, quando cedeo a tão