Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/210

Wikisource, a biblioteca livre
146

CAPITULO XL

Dos peixes, passaros e lagartos, que se encontram n’esses paizes.


Eis uma questão não pequena, de phisica ou de philosophia natural — «como pode um animal, vivo e perfeito na sua especie, formar-se sem progenitores.»

Alberto, o grande escriptor, vio peixes vivos no meio de uma grande pedra marmore, tirada da rocha, e rachada no centro.

Não é novidade para os que leram este autor, porque eu vi em Maranhão, nos regatos formados pelas chuvas, e que pouco duram, muito bons peixes, iguaes em tamanho e côr aos que vivem em rios permanentes, e que nascem de ovas.

Como é possivel, que sem haver ovas, possam estes peixes nascer, crescer e morrer, com a queda, augmento e ausencia das chuvas?

A razão d’isto está na força e influencia dos planetas predominantes em janeiro e fevereiro, quando nascem estes peixes, e na conjuncção forte da humidade e do calor e na disposição do terreno, tudo isto combinado de tal forma, que dá origem a taes e taes peixes de preferencia aqui do que em qualquer outra parte; como vemos na Europa em que a diversidade das terras, por onde passam as chuvas, produz differentes variedades de peixes.

Entre os passaros do Maranhão, dos quaes eu diria maravilhas, si outros ja o não tivessem feito, notei uma especie singular de aves aquaticas vermelhas,[NCH 68] cuja penna e carne são de côr escarlate, dando-se a particularidade de serem brancas quando sahem do ovo, depois com o tempo, quando podem vôar; são pretos, e assim ficam até chegarem a sua grandesa e grossura natural, d’ahi vão se tornando meio pardos e meio vermelhos, e finalmente totalmente rubros, passando assim por quatro mudanças.