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VI

Ivo d’Evreux, diga-se com pezar, teve o destino de quasi todos os historiadores primitivos do novo mundo: sua biographia, embora pouco desenvolvida, ainda está por escrever, e apesar das mais minuciosas e constantes investigações n’estes ultimos tempos, apenas conhecemos as circumstancias mais importantes de sua vida, e assim mesmo nada ao certo saberiamos si não fossem algumas notas colhidas em varios archivos dos antigos Conventos. Foi geral o esquecimento tanto da sua obra, como do seo autor. Pensam os escriptores de sua Ordem haverem dito bastante, lembrando ter elle vivido no seculo XVII, ter sido missionario zeloso, e autor de um livro, continuação obrigada da viagem do Padre Claudio, e até se esquecem de mencionar a sua existencia por espaço de dois annos entre os indios, onde este apenas demorou-se quatro mezes.

Conforme as inducções, que se podem tirar de um folheto manuscripto, conservado na bibliotheca Mazarina, opusculo cheio de datas precisas, relativas aos Capuchinhos do Convento da rua de Santo Honorato, o nosso Missionario devia ter nascido em 1577.

Indica por certo seu sobrenome a cidade onde elle nasceo, porem ignoramos qual foi o nome, que teve no seculo, como então se dizia. Á este respeito os amadores das viagens antigas foram mais bem succedidos quanto ao seo companheiro, o Padre Claudio, que se sabe pertencera a uma excellente familia, a dos Foullon. [1] O que ha de bem averiguado é, que os paes do Padre Ivo o applicaram á estudos excellentes, e que os seus professores não se contentaram de ensinarem-lhe só o latim e sim tambem o grego, e até o hebreu, e inspiraram-lhe tal gosto litterario, sem o qual não ha escriptor habil.

  1. E não Silvére, como por descuido disse em sua biographia o veneravel Eyriés. (Vid Mr. Prarond. Les hommes utiles de l’arrondissement d’Abbeville. 1858 — in 8.º)