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molle, como sejam musgos, pennas, algodão, farrapos, e frequentam muito a casa si não lhes fazem mal.

Fazem tanto barulho como um cão, quando caminham e conduzem na bocca o que acham, e é um prazer vel-os em tal lida.

Não fazem caminho direito quando construem seo ninho, e antes usam de muitos rodeios para não serem descobertos.

O sol chóca e faz abrir seos ovos, porque são muito frios e não tem calor proprio para isso.

São caçados por cobras grandes e horriveis, umas brancas como agoa, outras de côr de violeta, e finalmente algumas manchadas de diversas côres.

Invadem até as casas para nos tectos caçarem estes lagartos, que apenas as presentem ao longe, fogem como se a casa tivesse pegado fogo.

Mandei matar tres cobras d’estas n’um domingo, quando eu e meos companheiros fomos dizer missa na capella de S. Francisco, onde as achamos perseguindo os lagartos grandes, dos quaes já tinham matado muitos.

Pagaram tal temeridade levando cada uma mais de cincoenta cacetadas, e ainda se salvariam, si eu não as mandasse cortar em pedaços, que viveram e remecheram-se por mais de 24 horas procurando reunirem-se o que não conseguiram por estarem distantes umas das outras, talvez por quatro ou cinco passos.

Os selvagens tem muito horror d’estes lagartos, e dizem ser venenosos.

Os lagartos, quando velhos, perdem sua cauda, que fica negra, e por isso mesmo é fragil como vidro, e quebra-se por qualquer causa.

Não creio, que ellas renasçam, embora o affirme Aristoteles.

Fundo-me no que observei n’um lagarto grande, que estava na nossa casa de S. Francisco, onde se conservou por dois annos sem cauda, vindo diariamente comer