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começa a cahir com frio, e assim ficam até que appareça o sol e com seos raios extinga as gottas de orvalho, que cahiram nas folhas, e então vem ellas aquecer suas azas.

Em quanto guardam silencio, é minha opinião, que ellas se nutrem com o mesmo orvalho, e não digo isto sem causa pois quasi sempre ficam no mesmo logar, e quando sentem algum movimento voam para outra folha.

Algumas d’ellas, especialmente as todas verdes, não tem voz, arrastam-se pela terra como os gafanhotos, juntam-se como as moscas, põem em setembro ovinhos negros nos buracos dos ramos das arvores, nos quaes se formam os vermes, ao depois cigarras: vão pouco a pouco se fortificando afim de passarem a estação invernosa, e substituirem seos paes e mães que n’esse tempo morrem arrebentados á força de gritar como ja disse.

Não tem sangue, ou tem muito menos que as moscas, porem são organisadas de uma substancia porosa, secca, e ligeira.

Matam-nas as gallinhas, porem não as comem, e quando por acaso o fazem, enfraquecem e emmagrecem.

Ha n’este paiz diversas especies de mosquitos, porem apenas tratarei dos que o merecerem pelos seos principios naturaes, e são os chamados Maringoins pelos selvagens: ha de diversos tamanhos e grossura, e todos tem a mesma forma.

Originam-se de um humor acre, gostam dos sabores picantes e acidos, e por isso encontram-se muito no mar e suas praias no tempo do inverno, formados pelo humor e vapores do mar.

Incommodam muito os homens picando-lhes a pelle com seo bico ponteagudo como uma agulha, e sugando assim o humor salgado, que corre entre a pelle e a carne.

Gostam da luz porem aborrecem a chama e a fumaça, e por isso quando anoitece, as que andam por fóra, poisam nas folhas das arvores, e os que estão dentro de casa nos tectos, bem a seu pesar, por causa das fogueiras, que