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Notei que dois ou tres dias depois de coberta a casa, os grillos são brancos como neve, signal de nova geração, pouco a pouco tomam a sua cor ordinaria, amarello-negro.

Alem d’isto originam-se tambem de ervilhas, e favas podres o que conheci por experiencia.

Quanto á producção do pae e da mãe provêm d’uma semente deixada nas folhas de palma: é pegajosa e fica onde se colloca, até que d’ella por meio de calor saia outro grillosinho.

É ardente no seo ajuntamento, e eis porque tanto se multiplicam.

É muito pequeno, porem astucioso, tem horas para comer e para cantar: não deixam de procurar comida quando presentem estarem todos deitados, e então descem do tecto e correm, por assim dizer, os cantos da casa, onde se aproveitam de todas as migalhas e restos de comida, e se encontram restos de carangueijo deixam tudo mais.

Acabada a comida regressam a seos logares, onde cantam e passam o resto da noite, e o dia tambem, se o ardor do sol o não encommodar.

Não gostam de chuvas, e emquanto está chovendo, não cantam.

Gostam portanto do tempo sereno e doce, sem muito calor, e sem muita chuva. Roem muito os pannos, que encontram, e se acharem um capote de cem escudos n’uma noite dão cabo d’elle.

Não tocam em panno de linho á não estar elle engordurado, ou com algum liquido, de que gostem, e por isso para conservar-se alguns vestidos, embrulham-se n’estes pannos.

Tem quatro inimigos capitaes.

1.º Os lagartos, que correm apoz elles, como os cães atraz das lebres.

É um gosto vêr as voltas e vira-voltas que dá a caça e o caçador.

2.º Certos macaquinhos amarellos e verdes a que chamam os selvagens Sapaius, vivos e ageis como um passaro;