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Levam muito tempo preparando seo nicho, e o enfeitam o mais que podem, com o brunidor do seo fucinho.

Depositam no interior sua semente, como fazem as abelhas, fecham a entrada, occultam-na, dormem á noite em commum, e ainda a madrugada está longe, e já ellas se despertam para montar guarda e fazer sentinella ao redor de sua habitação, fazendo guerra de morte a quem se lhe aproximar.

Posso dar noticias d’isto, porque um dia, indo a um canto de minha casa arrumar não sei o que, quando passei, bati, sem querer, com a minha cabeça no nicho, onde estava a mãe, e ella, julgando mal de minhas intenções, pensou que eu o fizesse por maldade, e cheia de colera, escolheo a parte mais delicada do corpo humano, isto é, os olhos, para vingar-se.

Permittio Deos porem que em lugar dos olhos me ferisse as sobrancelhas com o seo aguilhão.

Foi tão doloroso o golpe, e tão penetrante o veneno, que cahi por terra, batendo-me extraordinariamente todas as minhas veias, desde a planta dos pés até o cume da cabeça, como nunca senti em minha vida.

Recolhi-me a cama com o coração sobresaltado, inchou muito a parte offendida, e ardia como brasa.

Julguei perder o olho, e assim estive por muitos dias, ao depois fiquei bom.

Procream ainda de outra forma. Fazem um pequeno pucaro de barro, arredondado, similhante aos feitos pelas aranhas, como ja disse, deitam dentro suas sementes, que se transformam em vermes vermelhos, iguaes aos que se encontram nas ameixas das damas: adquire depois azas, e fica vespa.

Não tem os selvagens cantharidas em seo paiz, porem fazem muito apreço d’ellas e dão muitos generos para possuil-as. Trazem-nas os francezes, porque anteriormente já tinham ensinado aos selvagens as propriedades d’ellas, o que não se deve escrever: prova isto que os homens viciosos