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Nada receia, nada teme: pára vendo dirigir-vos á ella, ou fica no fim da estrada, por onde tendes de passar, de forma que ou voltareis, ou então combatereis porque não cede.

É melhor a retirada ainda que com algum vexame, do que por orgulho arriscar sua vida em luta com tal animal.

O Rvd. padre Arsenio assim o fez, vindo da aldeia da Mayoba para a nossa casa de S. Francisco, quando encontrou, ao meio dia, na estrada uma onça que veio esperal-o. Regressou para a aldeia, e assim evitou perigo tão proximo.

Não buscam os homens, e é raro encontral-as, e quando isto se dá o perigo é certo.

Não se atiram, e nem correm logo atraz das pessoas que vêem, antes dão-lhe tempo bastante para fugir, e apenas agarram um ou outro menino, porem raras vezes.

Tem muito medo de fogo a ponto de não se approximarem d’elle, e por isso evitam-nas os indios accendendo fogueiras em suas casas, sempre abertas quer de dia quer de noite.

Fazem guerra desabrida aos cães e macacos, vindo agarrar aquelles até junto ás aldeias, sem causarem o menor mal aos selvagens deitados em suas redes, e quando vão estes á caça, acompanhados por muitos cães, são estes devorados e comidos pelas onças, que fingem correr diante d’elles, e quando se acham longe de seos senhores, saltam sobre elles e facilmente os estrangulam.

Poucos escapam de suas garras para trazer noticias a seos senhores, que não os ouvindo ladrar, acreditam que as onças os comeram.

Não vão mais alem, e regressam mais depressa a casa onde suas mulheres e filhos choram a morte do cão, que elles levaram á caça com intenção de divertirem-se.

Si é perigoso atacar um soldado furioso, e victorioso de seos inimigos, ainda muito mais o é apresentando-se em tal occasião á vista das onças.