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Caçam os macacos desta sorte: batem em circumferencia o bosque, onde se abrigam os macacos, encurralam-nos n’um ponto, onde se agrupam: então trepam as onças em varias arvores, e d’ali se atiram sobre os ramos e hastes de outras onde estão os macacos, e assim os apanham.

Empregam tambem outro ardil. Occultam-se debaixo de folhas n’um lugar, onde ellas sabem, que os macacos vem beber, ou quando estão pescando mariscos e carangueijos, então d’um só pulo agarram os que podem.

Fazem ainda mais.

Quando vêem ou ouvem que os macacos estão reunidos em qualquer lugar, vão surrateiramente arrastando a barriga pelo chão, como fazem os gatos quando querem agarrar algum ratinho, e depois estendem-se e fingem-se mortas.

Chega um macaco, pára, chama outros, que chegam logo, descem o mais que podem, sempre desconfiados, para verem e examinarem se na verdade está morto o inimigo: rangem uns os dentes, e outros como que fazem uma especie de discurso de congratulação por tal fim: eis senão quando resuscita o fingido morto, mais depressa do que elles sobe ao cimo da arvore, onde transforma a vida d’elles em morte, não simulada e sim real.

A onça só pare uma vez, e um só filho, como a leôa, e eis a razão de haverem poucas no Brasil. A onçasinha rasga o utero de sua mãe, que o nutre mui curiosamente até que fique em estado de cuidar por si de sua alimentação. Apesar de tal ruptura, unem-se em tempo proprio, porem não ha fructos d’esta união.

As onças são errantes, caminham por diversos logares, atravessam braços de mar, e quando falta-lhes pasto em terra, vão ao mar pescar carangueijos e outros iguaes bixos do mar.

Existem tambem onças marinhas, como ja disse quando fallei do Meary, tendo a parte anterior igual a da terra, e a posterior similhante a cauda de um peixe.