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Si vos descobrem debaixo de alguma arvore, fazem incrivel matinada, e depois de vos fazerem muitas caretas e de dizer-vos mil injurias em sua linguagem, embrenham-se pelos mattos.

Nunca deixam em hora certa,[NCH 79] á tarde ou noite, de ir beber agoa, mas sabeis com que subtileza?

Pára o grosso do exercito na distancia de 300 passos da fonte, manda espias para examinar a fonte e suas circumvisinhanças, espreitam si nada ha que os assuste, examinam com cuidado si ha embuscada de algum inimigo, e apenas o descobrem gritam com voz forte e correm a reunir-se ao exercito.

Voltam depois de algum tempo e praticam o mesmo.

No caso de segurança gritam e ganem para vir o exercito, e chegado este ainda usa de outra velhacaria.

Bebem todos um a um: á medida, que um bebe, passa alem e trepa n’uma arvore, e assim até o ultimo: assim bebem, passam para outro lado, por onde não vieram e ahi acabam a fieira.

Deixam a fonte e vão em tumulto procurar seos amores, e n’isto ha ordinariamente grandes gritarias, gemidos, mordiduras e arranhamentos, porque querem os mais fortes escolher as damas e serem servidos em primeiro lugar.

Nada digo sem experiencia e tudo isto presenciei todas as tardes na nossa fonte de S. Francisco.

Vão pescar sempre em companhia, carregando ás macacas ás costas seos filhos.

Pescam carangueijos e mariscos.

Antes de agarrarem os carangueijos, quebram-lhe as tezoiras para livrarem-se das mordidellas, depois quebram-nos com os dentes, e, se estão rijos, com pedras, e o mesmo fazem com os mariscos.

Cuidam muito as mães no sustento dos filhos, antes de poderem elles por si buscal-o; tiram o marisco e o carangueijo da concha, limpam-no muito bem, e offerecem ao filho nas costas, e estes o agarram e comem.