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imaginar-se o que fazem estes animaesinhos, que metem-se por toda a parte, e tudo trespassam se é de madeira.

Devem essas caixas ser feitas de ferro branco.

As mercadorias pelas quaes dos Indios obtereis em troca viveres e outros generos do paiz, e escravos para servir-vos e cultivar vossas roças, são as seguintes — facas de cabo de pau, de que usam os magarefes, e muito apetecidas pelos selvagens, muitas thesouras de bolsa de couro, muitos pentes, contas de vidro verde-gaio, a que chamam missanga, foices,[NCH 87] machados, podões, chapeos de pouco valor, fraques, camisollas, calções de adellos, espadas velhas, e arcabuses de pouco preço.

Dão muito apreço a tudo isto, e assim tereis escravos e bons generos.

Não esqueçaes tambem pannos verdes-gaios, e vermelhos de pouco valor, porque não fazem grande differença dos estofos, rosetas, assobios, campainhas, anneis de cobre dourado, anzóes, alicates de latão chatos, com um pé de cumprimento e meio de largura, tudo isto por elles muito apreciado.

Assim bem providos destes generos, não duvideis de serdes bem vindo entre elles: ahi não deveis viver vida folgada, e muito negocio fareis n’esse paiz pelo qual pouco dareis, se souberdes guiar-vos.

Assim preparado, não vos esqueçaes do principal, que é antes de embarcardes purificar e robustecer vossa alma com o Santissimo Sacramento da confissão e da communhão, dispondo todos os vossos negocios como quem não sabe se o mar lhe permittirá o voltar.

Apenas embarcado, fazei vossa cama o mais perto, que fôr possivel, do mastro grande para evitardes o balanço visto ser ahi o lugar mais quieto do navio.

Deve-se sempre temer a Deos, porem não receiar os acasos do mar, sendo melhor mostrar o rosto tranquillo do que desassocegado, visto de nada servir o medo.