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rico, porque hei de escolher um bom compadre, que tenha muitas mercadorias.»

Dizendo isto batem nas pernas e nos peitos em signal de alegria.

As mulheres e os rapazes fabricam farinha fresca e nova, e os homens vão pescar e caçar, e quando a casa está provida de carnes de diversas qualidades, raizes, peixes, caça, e farinha, vão todos aos navios.

Os mais impacientes vão em suas canôas á bordo do navio, ancorado na enseiada, endagar se vieram os seos velhos Chetuassaps, e qual é o francez que traz mais generos para lhe offerecer seo compadresco, sua casa e sua filha.

Apenas salta o francez é logo rodeiado por elles: homens e mulheres mostram-se prasenteiros, presenteam-nos com viveres, convidam-nos para compadre, offerecem-se para levar-lhes sua bagagem, em fim fazem o que podem para contental-os e agradal-os.

Não tem inveja por estar um francez em casa de outro: o que primeiro se apresenta é que leva o hospede, sem a menor questão, e nem por isso se insultam.

Fazem mais ainda: quando um francez muda de compadre, não questionam por isto, despresam-no, e tem-no por homem mau, e assim raciocinam.

«Si não poude viver com aquelle, como viverá commigo?»

Si o selvagem é genioso, avarento e preguiçoso, quando o francez o deixa não se zangam os outros, antes dizem «É bem feito ser elle despresado, é um homem difficil de ser aturado, avarento e preguiçoso.»

Escolhendo o francez um compadre, segue-o e vae para a aldeia,[NCH 89] e então o hospede com certa gravidade, como si nunca o houvesse visto, lhe estende a mão e lhe diz: «Ereiup Chetuassap?» «Chegaste meu compadre,»[NCH 90] coisa digna de vêr-se e de contemplar-se.

Direis ao vel-os, que sahem á maneira dos imperadores de um gabinete bem fechado, onde estavam empenhados em grandes negocios.