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Ha dias nos quaes não comem carne embora lh’a offereçam.

Não se passam dez dias, contando pelos dedos, que não mandem os Francezes vestirem-se com roupas bonitas, e irem a casa de Tupan fallar com elles e escutar a palavra de Deos.

Vestem-se de maneira diversa dos outros francezes, caminham diante d’elles, e todos os saudam. Convivem sempre com os grandes, que lhes fazem tudo quanto querem, e dizem até que abandonaram suas riquezas e fazendas para mais livres conversarem com Tupan, e manifestarem a vontade d’elle aos francezes.

Quando vamos vel-os, nos acariciam, especialmente a nossos filhos dizendo-nos, que já não nos pertencem e sim a elles, sendo-lhes dados por Tupan.

Que não nos penalizemos por isso, porque nunca nos deixarão e nem nossos filhos: que elles são muitos em França, que todos os annos virão outros, que depois de haverem educado e ensinado nossos filhos, os farão fallar em Deos tão familiarmente como elles o fazem: que lhes ensinarão a rotiarer (a escrever) e a fazer fallar o papere (o papel) mandado de muito longe aos que estão auzentes.

Dizem-nos que seo Rei é poderoso, que os ama, e nos ajudará em quanto elles estiverem comnosco. Ah! porque não somos mais moços para vêr as grandes coisas, que farão os Padres em nossas terras! Elles construirão com pedra grandes Igrejas como ha em França.

Trarão bellos estofos para ornar o lugar, onde desce Tupan. Mandarão buscar miengarres, isto é, musicos cantores[NCH 93] para entoarem as grandezas de Tupan.

Recolherão todos os nossos filhos n’um lugar, onde alguns dos Padres cuidarão d’elles. Mandarão buscar de França mulheres para ensinarem o que sabem á nossas filhas. Não nos faltarão ferramentas para nossas roças. Ah! diziam alguns d’elles em continuação, si chegarmos a vêr essas mulheres em nossas terras, então temos certesa que não nos deixarão