Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/285

Wikisource, a biblioteca livre
221

O Sr. de Pezieux mandou-me este homem, com um interprete, para me dizer o fim de sua vinda que muito me maravilhou vendo n’um selvagem tão grande fé, misturada com temor, respeito e humildade.

Quiz ir logo ter com elle, porem não pude, porque, como ja disse, de todas as partes vinham diariamente muitos selvagens procurar-me, e nem foi possivel mandar-lhe o Rvd. padre Arsenio porque estava occupado em outro logar, e por isso mandei-lhe um francez proprio e capaz para fazer-lhe companhia, cuidar na sua salvação e baptisal-o, sem ceremonia, no caso de receio de morte.

Chegando á sua casa o francez com o irmão de Marentin, disse-lhe que eu não podia deixar a ilha, e nem o Forte de Sam Luiz por causa dos muitos selvagens, que me vinham procurar, mas que elle vinha em meo logar afim de o baptisar, antes de morrer, no caso d’estar tão doente á ponto de não poder ir á ilha para ser baptisado por nossas mãos.

Ouvindo isto recobrou forças e actividade, e disse, «visto que a coisa é assim, não quero ser baptisado por um Caraiba, e sim pelas mãos dos padres,» e nem deixou de levantar-se (embora doente e fraco a ponto de não poder estar em pé senão com muito custo) na manhã seguinte, de embarcar-se e vir procurar-me no Forte, expondo-me o seo grande desejo de ser filho de Deos e baptisado, e de apagar as visões, que tinha na cabeça.

Respondi-lhe que era necessario aprender a doutrina christan o mais cedo que podesse, deixando muitas mulheres, e contentando-se apenas com uma.

Eram estas as duas coisas, que, entre outras, exigiamos dos adultos.

Replicou-me, que em quanto a pluralidade de mulheres foi coisa, que nunca approvou, e que achava de razão um homem ter uma mulher só, mas que em beneficio de sua casa necessitava de muitas.

Disse-lhe que podia ter muitas mulheres como servas, e não como esposas.