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Concordou n’isto facilmente, e cheio de bons desejos em poucos dias aprendeo a doutrina christan e pedio-me, que eu o instruisse, antes de ser baptisado, das ceremonias que com tanta attenção vio no primeiro dia, em que foi tocado pelo espirito de Deos.

Disse-lhe que Tupan era um grande Senhor, sempre comnosco embora não seja visto, devendo ser servido com profunda reverencia, com ornatos e vestidos diversos do ordinario.

Expliquei-lhe que o primeiro vestido branco, que me vio tomar, significava tres coisas: 1.º a innocencia e puresa, com que deviamos apparecer diante d’elle; 2.ª o vestido de sua humanidade, proveniente do sangue de uma virgem, de quem fallava com os homens: 3.ª para representar o vestido de zombaria, que lhe deram seos inimigos quando quiz por nós soffrer, ameaçando-lhe de o fazer padecer o que quizessem, embora tivesse elle o poder de impedil-os em suas intenções.

Disse-lhe, que a corda com que apertei a cintura, e essas tiras de seda, que puz no braço e no pescoço representavam os ornamentos, que deviamos dar á nossa alma para ser agradavel a Deos: a corda quer dizer — continencia de mulheres, a tira do braço — o bem, que devemos fazer ao proximo, e a do pescoço, onde é costume trazer-se collares e aderesses, — o amor e a perseverança na nossa profissão, que tudo isto junto faz lembrar as cordas com que foi preso o Salvador.

O outro vestido de seda, que puz por cima de tudo isto, mostra o zelo ou a salvação das almas, que devemos procurar, não nos contentando só de ir para o Ceo, mas fazendo tudo quanto pudermos para que nos acompanhem nossos similhantes.

Significa tambem o segundo vestido a vestimenta de zombaria, que foi dado a Nosso Senhor em sua Paixão.

A respeito da agoa e do sal, sobre que pronunciei algumas palavras, expliquei-lhe que eu o fiz para dar a agoa o