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Responderam-me «porque tinhamos vontade de te vêr, e fallar comtigo livremente, na ausencia dos francezes, e para esse fim viemos de proposito». Á vista d’isto não tive outro remedio senão atural-os.

Quando eu orava sosinho na nossa Capella, com as portas fechadas, rompiam o panno de Guiné, com que forramos a Igrejinha para vêr o que fazia eu ajoelhado defronte do Altar, e diziam uns para os outros ygneém Tupan «falla com Deos», e d’ahi não sahiam em quanto eu rezava.

Para livrar-me d’estas importunações mandei construir uma cerca ao redor da nossa casa e Capella de S. Francisco, muito forte, e entremeiada com ramos de palmeira espinhosa, assim conhecida por ter espinhos maiores do que o comprimento de um dedo, e embora tudo isto achavam meios de entrar e de me procurarem.

Ao escrever isto recorda-me o dito de Antalcide, escripto por Plutarcho no tratado dos Apophtegmas Laconicos, «quem quizer ganhar a amisade dos homens, deve ter na lingua um regato de mel, e nas mãos muitos fructos» isto é — palavras doces e serviços conforme ás palavras.

Mais não podiamos fazer para com estes selvagens do que captarmos sua amisade por palavras doceis, e fazer-lhes conhecer a Deos e os sacramentos da Igreja, unicos fructos da Paixão de Jesus Christo.

Ælian, no livro 14 de suas Historias diversas, disse, que «Epaminondas se admiraria muito se sahisse do seo palacio para misturar-se com o povo, e não adquirisse um novo amigo para juntal-o aos seos amigos.»

Não nos seria necessario ir a 200 e nem a 300 legoas afim de conquistar novos amigos para Jesus Christo, porque viriam por si mesmos offerecer-se para isso.

Gelius no livro 1º cap. 3º conta, que Pericles, um dos grandes do Areopago de Athenas, terminava a amisade dos homens junto aos altares dos Deoses, porem nunca fallou da