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Ouvi tambem dizer a alguns indios, que indo elles apanhar cajus em algumas aldeias abandonadas, sahio-lhe ao encontro Jeropary gritando com voz medonha, e chegou até o ponto de espancar muito alguns dos seos.

Dizem tambem, que Jeropary e os seos tem certos animaes, que nunca se vê, que só andam a noite, soltando gritos horriveis, que abala todo o interior (o que ouvi infinitas vezes) com os quaes convivem, e por isso os chamam Soo-Jeropary «animal de Jeropary», e creem que estes animaes servem aos diabos ora de homens ora de mulheres, e por isso nós o chamamos Succubes e Incubes, e os selvagens Kugnan Jeropary «a mulher do diabo» Aua Jeropary «o homem do diabo.»

Ha tambem certos passaros noturnos, que não cantam, mas que tem um piado queixoso, enfadonho, e triste, que vivem sempre escondidos, não sahindo dos bosques, chamados pelos indios Uyra Jeropary «passaros do diabo,»[NCH 99] e dizem que os diabos com elles convivem, que quando põem é um ovo em cada lugar, e assim por diante, que são cobertos pelo diabo, e que só comem terra.

Não exgotando minha curiosidade procurei indagar bem a verdade d’isto: muitas vezes estes animaes nocturnos vinham rodear nossa casa de Sam Francisco e soltar seos gritos medonhos, quando as noites eram sombrias e negras.

Apromptei-me para com outros francezes investir estes passaros onde se achassem conforme pudessemos prevêr, porem nada pudemos conseguir por não vel-os, embora os ouvissemos gritar em distancia de mais de um quarto de legoa.

Disseram-me alguns francezes, que eram uma especie de gatos bravos, o que não pode ser a vista do som, do sussurro e do volume do grito, que elle solta.

Outros disseram ser o vagido de vaccas bravas, o que negam os selvagens dizendo ser vozes de uma especie de animaes parecidos com maçaricos, e maiores do que uma raposa.