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recobrou sua saude: com tudo, emquanto esteve doente, pensou morrer, por maiores que fossem as nossas advertencias de que não devia prestar credito a taes feiticeiras.

Si estes pequenos e mediocres feiticeiros gozam de autoridade entre os seos, muito mais aquelles, que se chamam propriamente Pagy-uaçú[NCH 100] «grandes feiticeiros», porque são como os Soberanos d’uma Provincia, muito temidos, chegando a tal poder por muitas subtilesas: de ordinario tem communicação tacita com o diabo. Por onde passam, seguem-nos os povos; são graves e por isso não se communicam facilmente com os seos: são muito bem acompanhados quando vão a qualquer parte, e tem muitas mulheres, não lhes faltam mercadorias, julgam-se felizes seos similhantes quando os presenteiam, e com uma feitiçaria tiram aos seos compatriotas o melhor que possuem em suas caixas.

Não descobrem suas subtilezas diante dos selvagens, e pelo contrario zombam delles, e muitos me contaram os meios, que empregaram para isto, o que ainda direi em lugar proprio.

Japy-açú e o grande feiticeiro de Tapuitapera tiveram entre si uma questão, de que resultou reciproca desconfiança.

O grande feiticeiro mandou dizer-lhe, si elle já não se lembrava das molestias, que outr’ora lhe enviou, e de que pensou morrer a ponto de lhe pedir que as removesse, e si agora já não as temia?

Estas palavras impressionaram Japy-açú, e julgou-se feliz de ter sua amisade. A questão foi por causa de uma mulher retida por força; porem merece ser contada esta historia por haver relação entre ella e o objecto de que tratamos.

Adquirio o grande feiticeiro de Tapuitapera em sua Provincia e circumvisinhança fama e autoridade de um perfeito Magico, que a seu bel-prazer distribuia molestias e mortes, curava e dava saude, e por isso alcançou em seo paiz o