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fazem um buraco em terra, dentro de casas longinquas, deitam-se de bruços os feiticeiros, mettem a cabeça no buraco, fecham os olhos, perguntam ao demonio o que querem, e do fundo do buraco estes lhes respondem.

Este uso era muito trivial na Gentilidade, e deixando as historias profanas vou referir-me ao que está escripto no livro 1º dos Reys, cap. 28 quando Saul foi consultar a feiticeira de Endor, a qual curvando-se em terra, metendo a cabeça e o rosto n’um buraco, fazendo suas invocações, disse — Deos vidi ascendentes de terra — «vi Deoses subindo da terra.»

Não é sem fundamento, que ella escreveo e servio-se d’estas palavras — vi deoses, a menos, que estas feitiçarias não tivessem poder e força para fazer apparecer alguns diabos, mas quiz Deos, que a propria alma de Samuel acudisse á sua palavra afim de prophetisar a ultima desgraça de Saul, que em suas necessidades havia recorrido aos adevinhos e feiticeiros.

Soube de alguns francezes, moradores na aldeia de Vsaap, que um feiticeiro d’ahi era mui respeitado e temido pelos selvagens, por ser geral a crença delle fallar com toda a liberdade com o diabo, pela maneira ja dita, e por isso não se atreviam a aproximar-se de sua casa quando viam a porta fechada receiando tal colloquio.

Havia tambem na Ilha uma velha feiticeira, que guardava-se muito em segredo: era mui apreciada pelos selvagens e procurada especialmente nas molestias incuraveis; quando todos os feiticeiros já não sabiam o que haviam fazer, então ella era convidada, e trazida com segurança, porem sempre occulta.

N’um dia, segundo o que me disseram alguns francezes, ella veio a Vsaap para fazer uma cura, já sem esperança, e, antes de começar fechou-se n’uma casa, isolada no meio da praça da aldeia, e ahi fez suas invocações e feitiçarias diabolicas sobre o corpo do infermo, fazendo apparecer visivelmente o seo demonio.