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A este respeito não pude dizer outra coisa, senão o que disse a Escriptura Santa no proverbio 25 — Sicut qui mel multum comedit, non est ei bonun, sic qui scrutator est magestatis, opprimetur a gloria. — «É coisa tão doce como o mel, mas quem d’ella comer muito, não pode offender mais o estomago.»

Nada ha de mais suave e delicioso do que a contemplação das obras de Deos e a leitura das letras santas, mas para aquelle que vae muito alem, e tudo mede pela vara de seo espirito, impellido pela soberba de seo entendimento.

Nada ha mais seguro, que não fique opprimido pelos vivos raios da gloria de Sua Magestade, como se observa nos mochos cegos, visto quererem olhar e julgar da face do sol, e da sua luz.

Ao contrario, os que manejam com temor e humildade os mysterios de nossa fé, são esclarecidos sem prejuiso de suas vistas, e docilmente obedecem a vontade e poder do soberano, que pode o que quer, quer e faz o que diz.

Estes pobres selvagens, fallo até dos que não são ainda christãos, apenas se lhes fazia signal de sahirem da igreja, retiravam-se promptamente, ficando comtudo na porta, que se conservava fechada em quanto se recitava o canon da missa, e fazia-se a communhão.

Diziam elles, em resumo, que n’essa hora descia Tupan sobre os altares, bebendo e comendo comnosco, que não tinham merecimento para ficar ahi em frente d’elle senão quando fossem baptisados, e a maior parte d’elles se ajoelhavam, imitando os francezes.

Os Indios christãos ajoelhavam-se apenas ouviam tocar a campainha, juntavam as mãos e adoravam a Deos.

Ao mysterio do Sacratissimo Corpo e Precioso Sangue do Filho de Deos elles chamam Tupan, quer dizer, o proprio Deos, segundo suas crenças, Aséreu yanondé Tupan rare, quer dizer, «antes de morrer receberás o corpo de Deos».

Ainda que eu reconhecesse n’elles facilidade de crer segredo tão profundo, não me animaria a communicar-lhes senão