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«Eu bafejava os infermos, e elles ficavam bons: elles me diziam o que fizeram, e eu embaracei Jeropary de fazer-lhes mal.

«Fazia apparecer annos bons, e vingava-me dando doenças aos que me despresavam. Dava-lhes agua que corria do pavimento de minha casa, o que agora não faço e nem quero mais fazer, porque era a subtilesa do meo espirito, que me suggeria todas estas coisas, zombando assim dos meos, que julgavam, por falta de espirito, ser isto maravilha.

«Foi um francez que me ensinou a fazer brotar agoa do soalho de minha casa.»

Respondi-lhe pelo meu interprete, que na sua réplica descobria não procurar elle a Deos como era conveniente, por que pretendia por meio do baptismo fazer-se maior e mais estimado entre os seos do que era antes por meio de seos grosseiros embustes, visto que Deos exigia de seos filhos, que fossem humildes, e que se arrependessem dos peccados passados: com quanto na verdade Deos não deixe de exaltar os seos, muito mais do que os diabos fazem com os seos sectarios, em quanto elle tivesse esse espirito, não esperasse que os padres o baptisassem, e sim o fariam só quando elle não fosse soberbo, e estivesse arrependido de suas feitiçarias.

Em quanto eu dizia estas palavras, chegou o interprete do Sr. de la Ravardiere por nome Mingan, a quem eu tinha mandado chamar para conversar com Pacamão, porque é da indole d’esses selvagens dar mais credito aos interpretes mais velhos do que aos moços.

Contei-lhe palavra por palavra toda a nossa conferencia até aquella hora, e lhe pedi para fallar a elle de conformidade com os meos e seos pensamentos.

Eis como elle fallou:

«Tu bem sabes, que ha muito tempo eu converso comvosco, e com vossos paes, quando estavamos em Potyiu.

«Muitas vezes te chamei embusteiro por abusares de teos similhantes, muito credulos.