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Summario de algumas coisas mais particulares, referidas vocalmente aos Padres Capuchinhos de Pariz pelo Sr. de Manoir.

O Sr. de Manoir,[NCH 116] (um dos capitães, de que se fallou na carta precedente, que fôra encontrado n’aquelle paiz com o capitão Geraldo) chegando ultimamente á França, e sendo portador da carta, ja transcripta e de muitas outras (algumas das quaes bem desejariamos aqui publicar para que não ficassem sepultadas no esquecimento as maravilhosas obras de Deos, de que ellas fallam, como que para despertarem os homens afim de louvarem a sabedoria, providencia, e bondade do Creador) contou muitas particularidades dos padres, não referidas em suas cartas.

Disse, que os padres chegando ahi começaram a edificar sua morada, construindo uma Capella para celebração da missa, e algumas cellas pequenas para residencia, sendo coadjuvados por alguns selvagens com alguns pannos e ramos de arvores.

N’um certo dia, quando um padre celebrava missa, chegou um selvagem dos mais velhos, (que elles consideram seos governadores, honrando-os e respeitando-os por causa da sua idade avançada) em companhia de trinta selvagens para ouvirem missa, o que fizeram, admirando com grande surpresa tão bellas ceremonias, e tão lindos ornatos, por elles nunca visto (pois que homens e mulheres andam todos nús.)

Quando o sacerdote chegou á consagração e ao offertorio, desceo um véo entre elle e o povo, de forma que este não poude ver aquelle, e nem o que se fazia por detraz d’esse véo.

Julgaram isto uma affronta e mostraram-se offendidos, e por isso, finda a missa, foram perguntar a causa de tal offensa.

Responderam os padres que n’isto não havia offensa, e que assim se fez por serem elles ainda pagãos, não podendo