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Reconcentradas no interior por Mathias de Albuquerque, dizimadas pela variola, hoje são apenas a sombra do que foram sob o dominio dos seos chefes independentes.

Esta população indigena é comtudo maior nos desertos do Maranhão, e embora d’ella não tratem certas estatisticas, é avaliada em 5,000 o numero dos indigenas reunidos em aldeias.

Si dermos credito á um intelligente militar, que viveo em constantes relações com elles por espaço de 20 annos, a sua decadencia physica é menor que a moral, pois perderam até a reminiscencia de suas tradicções théogonicas, ainda mal, visto ser muito curioso o comparal-as com a narração dos antigos viajantes francezes.

Sob este ponto são elles menos favorecidos que os Guarayos, visitados por Orbigny, os quaes ainda hoje repetem em seos canticos as legendas cosmogonicas do seculo XVI.

Os indios do Maranhão, entre os quaes se contam os Timbyras, os Gés, os Krans, e os Cherentes não podem fornecer ao historiador senão informações mui incompletas, pois que ha perto de 40 annos já o major Francisco de Paula Ribeiro se queixava do immenso esquecimento d’elles, (vide Revista Trimensal, tomo 3.º, pag. 311) esquecimento fatal de grandes tradicções, pelo que se tornam hoje preciosos certos livros, como sejam os dos nossos velhos missionarios, onde pelo menos se encontram os mythos antigos, ahi escriptos para serem combatidos.

De vez em quando entre estes indios degenerados apresentam-se alguns homens energicos, que comprehendem o abatimento de sua raça, e que desejariam vel-a progredir, porem são mui raros, pouco comprehendidos, e demais só olham para o futuro, e não experimentam amor algum por sua antiga nacionalidade.

Seos compatriotas longe de ajudal-os nos trabalhos emprehendidos para melhorar seo futuro, ainda os amesquinham com o seo odio tão irreflectido quam brutal.