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Ha muitos annos já, que o Autor da Historia Geral do Brazil provou a importancia do estudo das linguas indigenas n’uma Memoria impressa entre as actas do Instituto Historico do Rio de Janeiro. (Agosto 1840.)

O padre Anchieta, a quem se deve a composição da primeira grammatica, conhecida, da lingua geral, não fallava o Tupy sem uma especie de enthusiasmo; o padre Figueira o imitou em sua sincera admiração; Laet, com quanto não manifestasse admiração gabou sua abundancia e doçura, e nisto foi seguido por Bettendorf.

Pode dizer-se, que entre todos estes foi o padre Araujo quem melhor fez sobresahir sua importancia debaixo do ponto de vista philosophico.

«Como foi, disse algures esse Religioso, que os povos, que a fallaram, tendo suas ideias limitadas em estreito circulo de objectos, todos necessarios embora á seo modo de vida, podessem conceber signaes representando idéas, capazes de indicar o objecto, que não conheciam antes, e isto não de qualquer forma, e sim com propriedade, energia e elegancia», accrescentando «sem ter ideia alguma da religião, a não ser da natural, encontraram em sua propria lingua expressão para patenteiar toda a sublimidade dos mysterios da religião, e da Graça, sem pedir emprestado coisa alguma aos outros idiomas.»

Enganar-se-ia completamente quem julgasse estar hoje esquecida a lingua usada entre tribus numerosas quando em 1500 Pedro Alvares Cabral descobrio o Brasil.

Deixou não só vestigios na Geographia do Brazil, mais tambem ainda hoje se falla n’algumas aldeias, tendo estreita affinidade com o Guarany, lingua usada na mór parte do Paraguay. Comtudo não é a mesma do seculo XVI.

Modificam-se os idiomas dos povos selvagens á similhança dos idiomas dos povos civilisados, e ainda mais talvez quando uma corrente de ideias novas vem desvial-os da liberdade do seo andar.