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XXX

Ivo d’Evreux não foi somente um pintor habil, um narrador sincero, e sim tambem um observador perspicaz dos costumes de uma raça, para assim dizer extincta, e que não se poderia consultar frequentemente.

Para escolher um só exemplo entre muitos, que elle offerece, basta dizer-se, que foi o unico, que descreveo os verdadeiros idolos, modelados em cera, ou esculpidos em madeira pelos indios.

Hans-Staden, Thevet, Lery e o proprio Gabriel Soares, tão prolixos á respeito do culto do maracá, guardam silencio relativamente ao que então se rendia á essas estatuasinhas modeladas grosseiramente, sem duvida, pelos habitantes nomades das grandes florestas, as quaes com tudo servem para mostrar um principio da pratica nascente da arte: assim elle o confessa n’estas palavras: «Este mau costume crescia e estendia-se pelas aldeias proximas de Juniparão.» Depois accrescentou, que seo companheiro o Revd. Padre Arsenio encontrou estes idolos na visinhança dos bosques.... Ora, pode-se deduzir d’este trecho curiosa inducção, não sem interesse para a archeologia futura de um grande Imperio, e vem a ser, que no começo do XVII seculo notavel mudança se tinha já feito nas ideias religiosas do grande povo da costa.

Sem duvida, n’esse tempo ja os Piagas tinham visto imagens nas igrejas, que se edificavam em varias partes do litoral: com a maravilhosa facilidade d’imitação, innata nos indios, ja no fim do XVI seculo tinham representado em estatuas alguns dos numerosos genios de suas florestas. Estes primeiros idolos foram infelizmente modelados em madeira, e embora houvesse grande copia d’elles, nenhum, ao menos que o saibamos, é conservado nos museos ethnographicos do novo Mundo, estabelecidos em varias localidades. Os Tupinambás, apenas chegaram na visinhança do rio das Amazonas, receberam ideias mais adiantadas de povos mais civilisados que elles: a poderosa nação dos Omaguas, por exemplo, cujas tribus vinham das regiões peruviannas, poderia