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ter influido sobre a arte grosseira, de que entre elles encontraram se tão curiosos especimens. Note-se, que estes importantes factos são, em geral, absolutamente despresados pelos escriptores portuguezes, e por isso não é pequena gloria para a nossa litteratura antiga, o ter possuido escriptores, dotados de genio tão observador á ponto de prestarem muita attenção ao estudo d’estes objectos.

Entre os que se misturaram com estas nações infelizes, no principio do seculo XVII, não conhecemos, na verdade, senão um unico viajante portuguez, cuja narração encantadora deve estar ao lado das de João de Lery e do Padre Ivo d’Evreux.[1]

Foi Fernando Cardin, Superior dos Jesuitas ainda em 1609, e que visitou os indios do Sul depois de haver por muito tempo administrado as aldeias dos Ilheos e da Bahia. Bem que este Missionario não possa, pela importancia de documentos, comparar-se a Gabriel Soares,[2] a quem se deve recorrer sempre que se queira, ter ideia exacta da nacionalidade dos indios, e da emigração das suas tribus, comtudo muito se lhe assimelha pelo seo estylo: como elle despresa os preconceitos, ama os selvagens, e com animação pinta admiravelmente o indio na sua aldeia, dando-nos a saber a grandesa, cheia de sinceridade, do seo caracter.

A descripção do Padre Ivo d’Evreux não é, somente, mais um documento de grande importancia, que se ajunta

  1. Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuitica pela Bahia, Porto Seguro, Pernambuco, Espirito Santo, Rio de Janeiro, etc. escripta em duas cartas ao Padre Provincial em Portugal. Lisboa. 1847 em 8.º
  2. Tratado descriptivo do Brasil em 1587, etc. Rio de Janeiro, 1851 em 8.º Foram estas duas obras exhumadas pelo Sr. F. A. de Varnhagem, historiador tão conhecido do Brasil. Esta ultima obra, de que existe um Manuscripto na bibliotheca imperial de Pariz foi tambem reproduzida por seo habil edictor na Revista trimensal. Morreo Gabriel Soares em 1591 n’uma praia deserta, após deploravel naufragio: como se vê foi quasi contemporaneo de Ivo d’Evreux.