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os rudimentos de estatuaria (imperfeita sem duvida) com applicação á mythologia d’estes povos.

D’estas coisas nada escreveram Thevèt, Hans Stadens, e Lery, Vasconcellos, Cardin e Jaboatão.

Eram os Tupys unicamente caçadores, e só per accidens se entregavam á vida agricola. Os unicos vestigios de cultura, que d’elles conhecemos, se referem aos seos Macanas, ou a sua Lyvera-péme, especie de armas pesadas, que elles enfeitavam á capricho.

Tinham por costume pôr um Maracá, enfeitado de bonitas pennas na prôa de suas canôas de guerra, tão esguias como elegantes, e será bem possivel, que a base d’esse instrumento seja ornado de sculpturas similhantes ás que se observam entre os insulares da Polynesia. É provavel que multiplicando-se suas relações com os Europeos, tenham os Tupinambás bebido entre elles ideias de sculptura rudimentar que applicam á suas divindades grosseiras.

O veridico Barrére, que escreveo mais de um seculo depois de Ivo d’Evreux, falla de um piaya fazendo uma estatueta de Anaanh, genio do mal, que não é senão o Anhanga do padre Nobrega e de Anchieta, cuja terrivel missão sobre a terra foi tão bem descripta por João de Lery, que sempre o chamou Aignan.

Dêem-lhe nas ilhas ou nos continentes os nomes de Uracan, de Hyorocan, de Jeropary, de Maboya, de Amignao, reconheçam-se os genios secundarios, como seos mensageiros (apenas citarei um, o malicioso Chinay, que faz emmagrecer os pobres indios sugando-lhes seo sangue.) Anhanga teve sempre fama terrivel nos seculos XVII e XVIII.

Este typo primitivo da sculptura religiosa dos Tupys foi infelizmente aberto em madeira muito molle, e por isso não poude resistir á acção do tempo, ou á invasão das formigas: duvidamos que se encontre um só specimen de dois seculos atraz.

Eis finalmente a passagem tão curiosa de Barrére que confirma as palavras do padre Ivo. «Tem os indios outra sorte