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XXXV

completamente, e obrigou-os a procurar refugio no seio das florestas. Só então, depois de exterminadas as tribus mais temiveis, é que o velho general se recolheo á Cidade de S. Luiz, e o que elle havia feito nos desertos do Maranhão tinha tambem posto em pratica Francisco Caldeira nas solidões do Pará, onde se edificava a Cidade de Belem.

Não eram estes, por certo, os sonhos de Ivo de Evreux e de seos tres companheiros para com o Maranhão: em suas almas haviam imaginado a fundação de uma Cidade nova, onde os corações innocentes dos indios se lhes reuniriam para em commum louvar o Deos da paz. Ordens de exterminio, em vez de orações, faziam em redor dos colonos um deserto que causava terror. Seriamos injustos, se não dissesemos, que os Religiosos trasidos por Jeronimo d’Albuquerque continuaram a missão dos Padres francezes. Como Ivo d’Evreux e Claudio d’Abbeville, os Padres portuguezes Frei Cosme de São Damião e Frei Manoel da Piedade, eram da Ordem dos Capuchinhos desde 1617, isto é, desde o momento em que a guerra se tornou mais cruel, e Bourdemare publicou seo livro: á Corte de Madrid pediram religiosos activos, acostumados a todas as fadigas, e por isso capazes de affrontal-as e de os ajudar. No dia 22 de julho chegaram mais quatro religiosos a essas terras, não para o pequeno Convento de São Luiz, e sim foram residir nas circumvisinhanças da Cidade de Belem, e d’ahi começou a cathequese no Pará.[1]

Não se sabe com certesa, se estes factos historicos, que de ora em diante terão lugar importante nos Annaes do Brasil, chegaram aos ouvidos dos missionarios dedicados que tantas fadigas soffreram para a conversão dos indios; a Europa gastou mais de dois seculos olhando para elles com indifferença,

  1. Vide Berredo, Annaes historicos do Maranhão, e tambem o Jornal de Timon de J. Lisboa, ns. 11 e 12, 1858, Lisboa. Diz este escriptor ter fallecido Jeronimo d’Albuquerque em 1618 succedendo-lhe no governo seo filho Antonio d’Albuquerque.