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XXXVI

e ainda passaram mais vinte annos depois d’elles terminados, para então ver-se a continuação corajosa da obra dos seos antecessores[1] por alguns Capuchinhos do Convento de Pariz: n’esse tempo estava Ivo d’Evreux bem proximo do termo de sua existencia, se é que ja não se tinha acabado tão dura perigrinação para elle.

Tudo emfim estava acabado para os povos, nossos fieis alliados por algum tempo, e aos quaes procuramos fazer comprehender as luzes do Evangelho. Achavam-se ja embrenhados nas margens desertas do Xingù, do Tocantins, e do Araguaya: ahi, bem longe dos colonos europeos se perpetuaram sob os nomes de Apiacas, de Gés e de Mundurucus, outrora tão temidos e hoje tão pouco, e até pelo contrario favorecidos por uma administração humana.[2]

Estes primitivos senhores do Brasil fallam ainda o idioma puro dos Tupys, cujos vestigios nos foram conservados por Ivo d’Evreux e Thevet, e especialmente por João de Lery, antes de ter reunido por meio de laboriosas fadigas os elementos do seo livro.

Foi nas margens destes grandes rios, ja citados, que ha quarenta annos o illustre Martius observou tantas tribus desimadas.

Ainda agora se lastimaria muito o sabio viajante sabendo, que até hoje ninguem colheo as ultimas lembranças, guardadas como legado por esses indios. Quando o governo brasileiro pensou, ha pouco tempo, na creação d’uma commissão scientifica, composta de sabios nacionaes, encarregada de visitar os pontos mais longinquos d’esse immenso Imperio, que não conta menos de 36° do Oriente ao Ocidente,

  1. Partiram para Goiana em 1635 os Missionarios da Ordem dos Capuchinhos, cujos trabalhos podem ser vistos nos manuscriptos legados pelo grande Convento de Pariz.
  2. Vide a respeito d’estes povos a rapida visita, que lhes fez Castelnau em 1851: Expedicção scientifica nas partes centraes d’America do Sul. T. 2º pag. 316.