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XXXVII

forão o Ceará, o Maranhão, o Pará e o Rio de Janeiro os primeiros lugares designados para a exploração. Comprehendeo muito bem, que se havia nestas terras virgens admiraveis productos da natureza a colher, tambem existia uma mythologia e uma serie de tradicções historicas á salvar-se do esquecimento, em quanto Freire Allemão, Capanema e Gabaglia faziam collecções de preciosos materiaes sobre historia natural, geographia e meteorologia, que formaram o objecto d’uma vasta publicação.[1]

Um poeta historiador, estimado pelo seo paiz, corajosamente embrenhava-se n’essas solidões incognitas para conhecer os segredos da vida intima dos indios. Antonio Gonçalves Dias, nascido no interior da provincia do Maranhão, familiarisado desde a infancia com as legendas americanas, fallando a lingoa geral, incumbia-se de alguma forma da execução do programma de Martius.

Bem cedo as legendas americanas, não nos animamos a dizer os mythos religiosos dos grandes povos do littoral, nos appareceram, taes quaes tem sido perpetuadas no interior, (graças talvez ao exilio) e quando chegar o momento de estudar-se com afinco a ethnographia, então se comprehenderá todo o valor das narrações sinceras de Lery, de Hans Staden, e de Ivo d’Evreux.

Seria injustiça muito censuravel o negar-se as antigas tentativas feitas pelos Religiosos portuguezes para a cathequese dos povos selvagens, habitantes das regiões do Amazonas: graças a elles, em 1607, principiou a exploração do Maranhão por essas viagens, corajosamente emprehendidas por Missionarios vindos dos Conventos de Pernambuco. Estas tentativas não foram perdidas para a geographia, mas quanto ao proveito do Christianismo, ellas se terminaram em um martyrio inutil. Mais tarde, sem duvida, a obra dos Figueiras e dos Pintos produsio seos fructos, assim como os

  1. Vide Trabalhos da Commissão scientifica de exploração. Rio de Janeiro. Typ. de Laemmert — 1862 in 4.º