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levados no grande mar do baptismo, e offerecidos á face do Sancta Sanctorum.

Os primeiros sacrificios, que Deos recebeo do povo de Israel, em procura da terra da promissão, d’onde expellio a infidelidade, foram sob as tendas e pavilhões do Tabernaculo, porem depois edificou-se o templo, e ahi continuaram os mesmos sacrificios.

Coisa similhante nos aconteceo quando fomos a esse paiz, cheio de infidelidade e ignorancia de Deos, carregado de demonios, insolentes tyrannos d’essas pobres almas captivas, levar a luz do Evangelho, banir as falsas crenças, expellir os demonios, plantar e construir a Igreja de Deos: durante mais de quatro mezes celebramos os santos sacrificios n’uma bonita tenda, no meio de arvores verdejantes: partindo depois alguns da nossa comitiva para a França em busca de auxilio, e ficando o resto para fundar a Colonia; fizemos edificar a Capella de São Francisco do Maranhão em um bello e agradavel lugar, junto do mar, proximo de uma bella e inexgotavel fonte, e ahi escolhi minha moradia, que um dia tinha de servir de Convento aos Religiosos, que eu esperava para me ajudarem.

Acabou-se esta Capella na vespera de Natal e muito a proposito pela devoção, que sempre teve o Seraphico Padre São Francisco, a quem era dedicada.

Alem de todas as festas do anno celebrava a noite, estrellada e sem trevas, do nascimento do verdadeiro Sol, Jesus-Christo, e tinha este santo Padre o costume de fazer um presepio, a cujo lado passava toda a noite contemplando o profundo mysterio da Encarnação, e da vinda tão estranha do Altissimo á terra.

Na verdade enchia-me de immenso prazer vendo n’esta capellinha, feita de madeira, coberta de folhas de palmeiras, mais similhante ao presepio de Belem do que esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatriotas francezes cantarem os psalmos e matinas d’esta noite, e depois de purificados pelo Sacramento da penitencia receberem