Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/90

Wikisource, a biblioteca livre
26

Foram immediatamente cercados pelos nossos, que os saudaram com 1000 ou 1200 tiros de mosquetaria em tres horas: defenderam-se porem elles valorosamente de sorte que sobre os nossos cahiam as flexas como chuva ou saraiva, ferindo alguns francezes e Tupinambás, porem não matando um só.

Sobre alguns dispararam-se tiros de morteiro, e de canhão, incendiaram-se-lhes tres Iuras morrendo n’essa occasião 60 indios d’elles, o que somente servio para mais augmentar-lhes o desespero pois antes queriam morrer do que cahir nas mãos dos Tupinambás.

Á vista d’isto resolveo-se abandonal-os com intenção de ver, si n’outra occasião, tratados com doçura podiam ser domesticados.

Durante o medonho combate dos mosqueteiros, usaram os selvagens d’uma traça singular pendurando os seos mortos no parapeito de suas Iuras, e por meio de uma corda de algodão amarrada aos pés faziam com que elles se mexessem.

Pelas fendas ou frestas viam os francezes estes corpos, e julgando-os vivos contra elles faziam fogo tres e quatro vezes a ponto de ficarem despedaçados, o que provocava os gritos e zombarias d’estes canalhas, e somente terminou-se esta triste scena quando uma mulher acenando com um pano branco á maneira dos parlamentares, fez com que cessasse o fogo, e então ella gritou «Vuac, Vuac.» Porque trouxeste estas boccas de fogo, (fallava dos francezes por causa da luz, que sahia das caçoletas de suas armas) para arruinar-nos, e destruir a terra?

«Pensas contar-nos no numero dos teos escravos, eis os ossos dos teos amigos e dos teos alliados, cuja carne comi, e ainda espero comer a tua e a dos teos.»

Pelos interpretes se lhe disse, que se entregasse afim de salvar o resto, que havia.

Não, não, respondeo ella, nunca nos entregaremos aos Tupinambás, elles são traidores. Eis aqui os nossos principaes,