Página:Viagem ao norte do Brasil (1874).pdf/99

Wikisource, a biblioteca livre
35

inimigos, não ficaria um só, porem conservei-os para satisfazer minha vontade, uns após outros, entreter meo apetite, e exercitar diariamente minha gente na guerra: e de que serviria matal-os todos de uma só vez quando não havia quem os comesse? Alem d’isto não tendo minha gente com quem bater-se, se desuniriam, e separar-se-iam como aconteceo á Thion.» Assim disse, porque antes estas duas nações formavam uma só, morando juntas, em lugares longinquos e distantes dos inimigos, contra os quaes podiam exercitar-se na guerra, e apezar de tudo atacaram-se reciprocamente.

Tal proceder confirma a bella maxima do Estado — quem deseja conservar o interior em paz, deve empregar os sediciosos fóra d’ahi, especialmente contra os inimigos da fé, e fallando em sentido moral — quem quer salvár o coração de todo o vicio e imperfeição deve resguardal-o das impressões exteriores.

Como condições de paz estabeleceo-se o esquecimento reciproco de todas as injurias, mortes e banquetes com os corpos dos inimigos: que devia revestir-se de paciencia quem mais perdesse: que não devia havêr exprobrações de parte á parte, e quando recolhidos a Ilha, morariam separados uns dos outros, e todos seriam fieis aos Francezes.

Chegada a occasião foram enviadas muitas canoas e barcos, nas quaes vieram para a Ilha.

Foram bem recebidos, o seo chefe Thion saudado com cinco tiros de peça, e duas descargas de mosquetaria, passando por meio de soldados francezes, dispostos conforme as ceremonias da guerra, assim entrou no Forte, onde o Sr. Pesieux e eu o acolhemos, e o condusimos á sua casa para descançar.

Em lugar proprio contarei o que elle nos disse.