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Não quero dizer que era uma belleza; longe d’isso. Nem bella nem môça, nem airosa de faser impressão era a duqueza d’Abrantes. Mas em meia hora de conversação, de tracto, descubriam-se-lhe tantas graças, tanto natural, tanta amabilidade, um complexo tam verdadeiro e perfeito da mulher franceza, a mulher mais seductora do mundo, que involuntariamente se dizia a gente no seu coração: ’Como se está bem aqui!’

Fallámos de Portugal, de Lisboa, do imperio — da restauração, da revolução de julho (isto era em 1831), de M. de Lafayette, de Luiz-Philippe, de Chateaubriand — o seu grande amigo d’ella — do Sacré-Coeur e das suas elegantes devotas — fallámos artes, poesia, politica... e eu não tinha ânimo para acabar de conversar...

Benevolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto ainda é consciencia, um resto de consciencia: acabemos com éstas digressões e perennaes divagações minhas. Bem vejo que te deixei parado á minha espera no meio da ponte d’Asseca. Perdoa-me por quem es, dêmos d’espora ás mulinhas, e vamos que são horas.